BEM-VINDO!

Este é o meu espaço para postar os pensamentos e ideias que quero compartilhar com as pessoas.
Aqui eu desabafo e me manifesto, portanto, desculpe qualquer coisa.
Mas se você chegou até aqui, entre e fique à vontade!
:-)

terça-feira, 26 de abril de 2011

JORNALISTA - PROFISSÃO: PERIGO

Ontem aconteceu um caso absurdo em Brasília, cidade onde os absurdos infelizmente são tão comuns que a repercussão até que foi tímida.
O repórter Victor Boyadjian, do Grupo Bandeirantes, estava entrevistando o senador Roberto Requião e insistia em perguntar por que o dito-cujo não se empenhava em devolver aos cofres públicos a pensão vitalícia que ele recebia como ex-governador do Paraná, depois que passou do governo ao senado.
Esse assunto é espinhoso, muitos políticos ditos “ficha limpa”, que recebiam essa verdadeira benesse, se viram em saias-justas ao ser descoberta a mamata, tendo que abrir mão do benefício para tentar manter sua imagem minimamente respeitável perante o grande público, já que o assunto deu muita mídia.
Outros não se importaram em manter a vantagem, alegando que, se ela é legalmente constituída, não pode ser considerada como indevida. Tremendos caras-de-pau, mas ao menos são sinceros, doa a quem doer.
Requião, do PMDB, é da turma que diz que “nem sim, nem não, muito pelo contrário”, sabe... Ficou em cima do muro, deu uma desculpa esfarrapadíssima ao repórter, de que esse dinheiro ele usa para pagar multas injustas que lhe são impostas (que multas serão estas, afinal?) e deixou entrever que não tem a intenção de abrir mão do dinheirinho fácil, que se não for revogado pela Justiça, vai continuar entrando em seus cofres pelo resto de sua vida difícil, muito tempo depois de quitadas as tais ‘multas’.
Mas Victor não se deu por vencido e resolveu insistir ainda uma outra vez, questionando se ele não concordava que, se abrisse mão do benefício, talvez estivesse fazendo a sua parte para ajudar a melhorar a condição dos cofres combalidos de seu Estado. Aí a truculência tomou forma e, aproveitando que falava ao rádio (e não às câmeras de TV), Requião ameaçou surrar o repórter, tomou-lhe o gravador, deletou o áudio da entrevista e ainda a publicou em seu site, bravateando que o sujeito era um ‘engraçadinho’, que a entrevista era ‘dele’, que não permitiria nenhuma edição em sua fala para prejudicá-lo. Só faltava se comparar a Jesus Cristo! Pior é que não, não faltou. Ele ainda ousou fazer isso... (é brincadeira a gente trabalhar tanto pra pagar o salário polpudo de sujeitos assim, né não?)
Isso depois do pobre Victor concordar em desligar o gravador – coisa que, em si, já seria uma indignidade, pois o gravador é o seu instrumento de trabalho, afinal, ele estava gravando uma reportagem para a Rádio Bandeirantes! Como validar a matéria sem o áudio do entrevistado???
Enfim, depois da agressão e da ameaça, vencido e indignado, o repórter tentou registrar a ocorrência na Corregedoria do Senado, mas não foi bem-sucedido, porque – pasmem! – o Senado está sem corregedor, desde outubro do ano passado. Mais uma prova de eficiência muito conveniente do ilustre – e de há muito manjadíssimo - presidente da casa, senador Sarney. A propósito, indagado sobre o assunto, o lord maranhense se limitou a dizer que não acreditava que o senador tivesse feito isso, pois ele era uma pessoa muito elegante... É cinismo demais.
Ou seja: ficou o dito pelo não-dito, o truculento entrou e saiu da situação ileso, e se a FENAJ não tomar uma atitude em alguma instância do poder federal, nem mesmo uma censura esse agressivo senador vai receber. O crime compensa. Pelo menos para ‘quem pode’.
Ainda bem que o Sindicato dos Jornalistas no DF tomou posição e está tentando enquadrar a atitude desse servidor público, desse “funcionário do povo brasileiro”, como falta de decoro parlamentar. É o mínimo, mas quem sabe pelo menos uma bronquinha discreta, ao pé do ouvido, o senador receba. É pouco, pouquíssimo, principalmente se considerarmos que a ameaça feita por ele ao repórter pode se concretizar – esses políticos do gênero ‘coronel’, que existem à larga no Brasil, são mesmo de meter medo.
Quanto ao jornalista, quem mandou ser atrevido e engraçadinho, importunando um importante membro do Congresso Nacional com perguntas desagradáveis durante uma entrevista?

segunda-feira, 25 de abril de 2011

O DRAMA DO DESENVOLVIMENTO SEM EVOLUÇÃO

Viver em São Paulo virou um verdadeiro exercício de paciência. Nos feriados prolongados eu costumava ficar e tentar curtir minha cidade. Tinha quase nenhum trânsito, o shopping ficava tranqüilo, nenhuma fila no cinema – enfim, parecia que minha cidade era, finalmente, minha!
Tenho saudades daqueles tempos. Agora, quando apenas para esvaziar a cidade são necessárias 24 horas de trânsito infernal, ainda sobra gente e carro suficiente pra pegar fila até na padaria, pela manhã.
Uma colega disse que foi ao shopping neste feriado e encontrou filas quilométricas no cinema, apenas para comprar ingressos (provavelmente para a última sessão). Isso depois de ficar quase uma hora rodando no estacionamento tentando encontrar uma vaga. Nos corredores, um inferno. Acabou desistindo e indo pra casa assistir TV mesmo.
Há não muito tempo, quando o Brasil ainda era o país do futuro, trânsito engarrafado ia somente até eu chegar em Santana. Dali pra frente, era só alegria. Agora eu encontro trânsito até na minha modesta rua, no meu modestíssimo bairro...
Com a promoção do país do terceiro para, quem sabe, o ‘segundo’ mundo, ficou bem mais fácil a gente ter um carrinho na garagem, fugir dos ônibus absolutamente lotados e dos metrôs idem. Mas aí a gente cai no congestionamento diário! E por quê? Talvez porque o mesmo governo bem-sucedido que colocou a economia nacional nos eixos se esqueceu de que progresso demanda infra-estrutura. Que mais carros nas ruas demandam mais ruas para se trafegar. Que não basta apenas abrir mão de parte da tributação (caríssima, aliás) cobrada na venda dos automóveis, mas que é preciso também investimento público na estrutura viária, para não acabar criando um monstro.
Isso sem falar que, junto com o carro na garagem, vem a compra do imóvel próprio. Eu mesma sou um exemplo disso – embora meu investimento em consórcio imobiliário viesse desde bem antes de pensarmos no fim da inflação. Mas muita gente, ao melhorar sua condição financeira, passou a ter condições de colocar em prática o sonho de ter sua própria casa, deixando de pagar aluguel.
Resultado: prédios e mais prédios, um ‘boom’ imobiliário que só não invadiu ainda a Serra da Cantareira porque provavelmente tem alguém vigiando. Pra todo lado que se olha é prédio subindo. Quando passo por um, já começo a me lamentar antecipadamente pelo aumento no fluxo de veículos que cada novo lançamento vai implicar, no aumento do nó no trânsito que insiste em atravancar, cada dia mais, o meu caminho diário.
Hoje um colega, chegando à empresa, disse que chegou cedo pra conseguir estacionar no único trecho próximo dali que não era zona azul. E que quase dançou, porque parece que tem gente que dorme na vaga, pra não ter que pagar o preço exorbitante cobrado pelos estacionamentos da região – que, aliás, corresponde a praticamente o mesmo valor da prestação que ele paga pelo carro!
Enfim, desabafo porque preciso, porque não acho justo termos que passar por tanto dissabor só por estarmos, enfim, ‘evoluindo’ como nação. Desabafo porque a quantidade de ruas nesta cidade é a mesma há quase um século, enquanto a frota desembestou a praticamente dois veículos por habitante – e ninguém no governo ou prefeitura parece estar muito preocupado com isso.
Alternativa? Esperar um momento entre meia-noite e 5 da manhã de um dia qualquer – que não seja véspera de feriado -, juntar minhas coisas e pegar a estrada de vez, mudar pro interior, mas bem lá nos cafundós mesmo - porque esse estresse já começou a chegar a muitas cidades antes tranquilas e pacatas, infelizmente. E vir aqui apenas pra visitar (num feriadão, claro). Um dia eu realizo esse sonho.


sábado, 9 de abril de 2011

A ÚLTIMA CARTA

Muito se tem falado nos últimos dias sobre o massacre ocorrido na escola de Realengo, no Rio de Janeiro. Aliás, praticamente só se fala nisso. Todos estão atônitos com o ocorrido, tão diferente do padrão das chacinas brasileiras. Sim, porque ao se dizer “nossa, isso nunca ocorreu no Brasil”, tem-se a impressão de que aqui o negócio é só paz e amor. E não é. As chacinas, bastante comuns em todo canto deste país, ocorrem com muito mais freqüência do que o acontecido naquela escola, infelizmente.
Mas a repercussão foi enorme, e tinha mesmo de ser, porque se tratava de crianças num ambiente estudantil, de paz, de educação, de segurança. Pelo menos era o que se esperava que fosse.
Ocorre que havia alguém planejando aquele crime todo o tempo, premeditando, calculando, preparando tudo para que nada desse errado. O bilhete que ele deixou é a prova cabal disto. O perigo morava bem perto daquela escola e se escondia por detrás de um rosto comum. Mas com um olhar triste. Não sei, não conheço a cara do assassino, exceto pela foto que foi divulgada na imprensa, mas o que se vê ali é o rosto de um homem terrivelmente triste, de olhar perturbado, atormentado – acho que esta é a palavra que melhor descreve o semblante dele.
Um sujeito como muitos que nós todos conhecemos e com os quais convivemos, sem sequer suspeitar os dramas que se escondem por detrás desses rostos.
Pelo que se sabe até agora, Wellington não era um cara mau. Não roubava, não matava, não usava drogas, nem mesmo bebia. Era filho adotivo, órfão de pai e mãe, vivia sozinho uma vida silenciosa e, pelo visto, vazia. Era ele e seu computador, mais ninguém. Nem amigos, nem amores...
O que se pode esperar de alguém que vive assim? Rejeitado desde o nascimento, nasceu de uma mulher que dizem que era doente mental. Ou seja: além de portar a genética da loucura, ele teve condições muito favoráveis para desenvolver sua psicopatia. Tudo leva a crer que a rejeição foi o fio condutor de sua vida, pois era alegadamente virgem, aos 24 anos (algo incomum para um homem, neste país de “macho-men”).  Talvez essa virgindade não fosse uma opção sua, talvez ele tenha sido esnobado na adolescência e desenvolvido uma carapaça de timidez, para se proteger do sofrimento de novas rejeições. E foi ficando cada vez mais ensimesmado, a ponto de praticamente não falar com ninguém. Falava só o necessário para tocar sua vida.
Bom, pra mim foi a rejeição que levou Wellington a cometer a loucura suprema: tirar a vida de um monte de adolescentes e, pior ainda, também a própria vida. Não agüentou viver consigo mesmo nem mais um dia, jogou a toalha. E levou um monte de virgens consigo – pois dizem que ele perguntava antes, e só atirava em quem respondia ser virgem.
Com qual propósito, meu Deus? Pra quê? O que é que ele esperava obter com essa insanidade? Paz de espírito, talvez?.. Difícil saber, mas certamente vão investigar, e milhões de teorias vão pulular na mídia nos próximos dias. Assunto pra imprensa é que não vai faltar.
O bilhete que ele deixou está rendendo muito assunto, especialmente porque ele demonstrou ali que não era um monstro: fez questão de deixar sua casa para uma entidade protetora de animais abandonados. Ele se preocupava realmente com alguém: os animais. Abandonados. Indefesos. Como ele próprio se sentia, em seu íntimo, talvez...
Uma psicóloga escreveu um artigo para um jornal on-line dizendo que Wellington “se despiu de sua humanidade” ao se alinhar aos cachorros e gatos sem dono, dos quais demonstrou se compadecer em sua última mensagem a este mundo.
Penso que alguém que gosta de animais e/ou crianças, demonstra ter dentro de si um coração. Assim, por menos que gostem e a despeito de tudo o que fez, ele tinha um coração - ferido, magoado, mas tinha. Era um infeliz, um coitado, alguém que viveu à margem e com quem ninguém se importava. Tanto é que até agora o corpo dele está lá, no IML, e ninguém reclamou. Isso porque ele deixou claras as regras para seu enterro, coitado... Corre ainda o risco de ser enterrado como indigente. Rejeitado até depois de morto.
Alguém que é alegadamente cristão tem que ser capaz de perdoar. Segundo o Evangelho, Jesus diz que “devemos perdoar não sete, mas setenta vezes sete”. Por mais difícil que seja aceitar a morte prematura de tantos adolescentes no florescer de sua juventude, é preciso desarmar nosso coração e perdoar o assassino. As contas que ele terá que acertar do outro lado da vida não serão fáceis de liquidar, por isso, seu espírito errante é digno de compaixão.
Acredito que bem poucas pessoas estão orando por ele neste momento – ao contrário, é da nossa natureza latina, de sangue quente, querer matá-lo de novo e de novo, quantas vezes for necessário, para dar vazão à nossa sede de justiça. No entanto, ele parecia ser alguém que tinha amor em seu coração, que se preocupava com os animais, e sofria. Viveu uma vida de tormentos, não parece ter sabido o que é felicidade.
Tenhamos compaixão pelas crianças mortas, pelos feridos, pelas famílias que ficaram com a dor dessas perdas, mas tenhamos também por ele. É o que faria o Mestre e certamente o que recomendaria São Francisco. E Eles são sábios (bem mais que nós, pobres mortais).
Pensemos nisto, de coração desarmado.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

SEDE DE SUCESSO

Ontem o São Paulo jogou contra o Santa Cruz, para tentar passar à próxima etapa da Copa Brasil de futebol.
Rogério Ceni, ainda de ‘ressaca’ por conta da marca história dos 100 gols na carreira, conquistada no jogo contra o Corinthians pelo Paulistão, teve a oportunidade de ampliar essa contagem. Mas, ao bater o pênalti, foi displicente, e o goleiro adversário defendeu a cobrança.
Ele ficou chateado, fez aquela cara de quem não acreditava no próprio erro, mas o que chamou a atenção foi a atitude infeliz do jogador Jeovânio, do Santa Cruz, que partiu pra cima dele e o xingou de "fdp", agressiva  e acintosamente.
Ninguém entendeu nada, afinal, ele deveria estar contente pelo fato de seu time não ter levado o gol. Talvez se podia esperar que ele tirasse um sarrinho do Rogério, tipo “aê, trouxa, errou né?”. Ou até mesmo tido uma atitude mais esportiva, mais camarada, dando uns tapinhas nas costas do goleiro e dizendo “não se pode acertar todas”, ou algo assim.
Mas agredir gratuitamente o colega, a troco de nada? O cara já estava se sentindo derrotado pelo erro cometido, num jogo que valia a sua classificação ou a eliminação do torneio. Não havia feito nenhuma provocação, não havia desrespeitado o adversário (Rogério não tem esse perfil). E o tal zagueiro, mesmo assim, se achou no direito de agir daquela forma lamentável, claramente flagrada pelas câmeras de TV.
Que feio. Um jogador absolutamente desconhecido, que atua na quarta divisão de seu Estado – Pernambuco – tendo a oportunidade de ficar frente a frente com um verdadeiro mito do futebol, respeitado por torcedores e jornalistas no mundo inteiro, preferiu passar um péssimo recibo, da pior maneira possível.
Talvez ele quisesse ficar famoso, sei lá. Aparecer, ‘causar’, tumultuar. Antes deste jogo, se alguém falasse no seu nome, à exceção de alguns torcedores do seu time e jornalistas regionais, provavelmente a maioria das pessoas não iria saber de quem se tratava. Agora não, agora “Jeovânio” é citado e comentado, mas como sinônimo de falta de educação e respeito, além de modelo de atitude anti-desportiva.
Se Rogério Ceni entrou para a história do futebol mundial pelo atleta talentoso, respeitado e obstinado que é, esse rapaz deve é ser esquecido, o mais rapidamente possível. 
(Em tempo: Hoje é meu dia, o dia do Jornalista. Vou postar algo a respeito dessa bela profissão oportunamente, prometo). :-)

quinta-feira, 17 de março de 2011

TUDO ESTÁ NO SEU LUGAR, GRAÇAS A DEUS...

Passada quase uma semana desde a tragédia ocorrida no Japão, ainda não consigo me desligar do sofrimento a que aquelas pessoas estão sendo submetidas.
Parece que as coisas, que já estão horríveis, sempre podem piorar.
Imagine só que azar: num belo dia do mês de março está tudo certinho, a vida corre como sempre, um cotidiano seguro e calmo. De repente, vem um terremoto daqueles tipo “big one” e chacoalha tudo. As coisas saem do lugar, tudo vem abaixo, o chão parece uma geléia, todo mundo sai correndo, sem acreditar que isso está acontecendo.
Com isso, estradas ficam imprestáveis, pontes desabam sobre os rios, imóveis vêm abaixo, pessoas ficam soterradas, falta energia e, consequentemente, tudo o que depende dela também acaba sendo afetado. Ou seja: começa a faltar água e o saneamento fica abalado.
Ainda tentando se refazer do susto, vem o alarme: um tsunami de proporções gigantescas está a caminho e chega em no máximo 1 hora.
Meu Deus, o jeito é correr e tentar se abrigar. E a onda vem, mais de 10 metros de altura (há quem diga que em alguns lugares chegou a 18 metros), arrastando consigo tudo o que vê pela frente: gente, animais, coisas, casas, carros, caminhões, barcos, navios, containeres. Juntos, misturados, se embolando no meio daquele vagalhão. Um hospital foi destruído até o seu segundo andar; somente os que estavam do terceiro andar para cima conseguiram se salvar.
E, levando tudo, a água vai ficando negra, cheia de detritos, pedaços de madeira e entulho do que já foi destruído pelo tremor e, agora, pela própria água. Aquele caldo escuro vai invadindo, muito alto, muito rápido, cidades, aeroportos, prédios, carregando o que estiver no seu caminho. Inclusive os que estavam soterrados, na esperança de serem resgatados depois do terrível terremoto. Nenhuma esperança poderia restar agora.
Depois que a onda se espalha em seu curso nefasto e volta pra trás, o que resta são somente montanhas e mais montanhas de escombros. Entulho, madeiras, vigas, caixas, pertences daqueles que provavelmente fugiram a tempo – ou não. E corpos. Muitos corpos. Alguns visíveis, outros, sob toneladas de lixo, talvez não sejam encontrados tão cedo. São crianças, idosos, adolescentes, homens, mulheres, animais de estimação. 
Na busca desesperada por sobreviventes, o relógio é um inimigo poderoso. É preciso agir rápido, é preciso coragem, e graças à temperança e valentia dos socorristas, muitos conseguem ser resgatados. Um morador é encontrado pela tripulação de um barco, no telhado de sua casa, em alto mar, à deriva. A casa toda saiu flutuando, e o sortudo foi encontrado vivo, no dia seguinte. Se é que se pode chamar de sorte ter sobrevivido.
Agora, além do desalento de não encontrar mais a sua cidade, de não ter mais para onde voltar, de ver suas memórias completamente destruídas, de não ter sequer o que comer, beber ou vestir, o risco é a contaminação que paira sobre os restos do que até pouco tempo era aquela cidade. Os detritos e os corpos em decomposição são um terreno fértil para a proliferação de bactérias e das infecções que elas podem causar: cólera, tifo, muitas doenças.
Difícil acreditar que as coisas possam ficar pior. Mas ficam. Uma usina nuclear na região do terremoto sofreu uma pane em seus equipamentos, o reator explodiu e está pegando fogo. O perigo agora é o vazamento de material radiativo, a nuvem tóxica, que, dependendo do rumo dos ventos, pode se tornar uma ameaça ainda maior do que foram o terremoto e o tsunami, e ampliar sobremaneira a tragédia.
Os especialistas estão fazendo o possível para resfriar o reator danificado e tentar diminuir o risco de vazamento, mas as réplicas do primeiro tremor continuam ocorrendo o tempo todo, e chegando a níveis 6, 7 e até maiores, na escala Richter, dificultando qualquer controle da situação.
Com sede, fome, frio – ainda é inverno no Japão – e vivendo apenas da esperança de que as autoridades vão dar um jeito na situação, as privações a que essas pessoas são submetidas são inimagináveis.
Para ajudar, as temperaturas despencam a zero grau, vem a neve, que em nada ajuda o trabalho dos socorristas. Quem já não tinha mais nada, agora tem menos ainda: não há eletricidade para alimentar a calefação tão necessária para ajudá-los a enfrentar o frio congelante. Nem para fazer funcionar o sistema de esgotos. A água é racionada, pois os mananciais foram atingidos pela onda negra, que contaminou os reservatórios. Comida, só a que vem dos donativos de quem teve mais sorte.
Quem vê nos jornais as imagens de tanto sofrimento imagina estar tendo uma visão do que poderia ser o inferno. Um inferno frio, gelado, em que a esperança também começa a ser racionada. Será que as autoridades vão conseguir ajudar mesmo essas pessoas? Será que não existe o risco da radiação se espalhar? Não seria melhor sair dali, tentar fugir?
Diante de um cenário desses, em que o número de mortos aumenta na mesma proporção em que diminui a esperança, aquela irritante demora da chegada do elevador perde completamente o sentido. O trânsito parado no trajeto diário entre a casa e o trabalho pode ser considerado até uma bênção. Sim, pois a despeito da demora, a gente sabe que, cedo ou tarde, estará em casa, poderá jantar em paz, tomar um banho revigorante, deitar numa cama macia para descansar e começar tudo de novo no dia seguinte. Seremos donos de nossas vidas, nossa memória, nossos pertences. Poderemos estar com nossos entes queridos e tocar nossas rotinas em paz, sabendo que tudo está no seu lugar – graças a Deus. Um privilégio que raramente nos damos conta que temos.

quarta-feira, 2 de março de 2011

A INÉRCIA PÚBLICA E A PASSIVIDADE DO CONTRIBUINTE

Hoje eu li um editorial do Jornal da Tarde que achei bárbaro, em que o jornalista tratava da falta de atitude da população que paga impostos diante daquilo que qualquer contribuinte deveria considerar abusivo e até, por que não dizer, escandaloso: a inércia dos governos em relação a seus deveres e promessas eleitorais.
A cidade de São Paulo está jogada às traças há bastante tempo. Muitos cidadãos protestam como podem - usando a mídia - para ver se incomodam o Sr. Kassab o suficiente para ele ao menos esboçar algum interesse em cumprir com o seu dever e cuidar do município, em vez de se ocupar apenas da formação de conchavos políticos visando a sua pretensa futura eleição para o Governo do Estado.
O prefeito foi eleito para servir à cidade, e não para se alienar e fugir ao seu compromisso como tem feito questão de fazer neste seu mandato.
Mas o que dói é saber que pagamos IPTU, IPVA, e um monte de outros tributos indiretos, para esses indivíduos fazerem o que é preciso para que possamos ter uma cidade minimamente habitável, e acontece exatamente o oposto: quanto mais se paga, menos se tem retorno. O dinheiro que entra aos borbotões nos cofres da prefeitura desta cidade vira radar para multar o pobre contribuinte, isso sim. Nisso, a eficiência do prefeito é invejável. Podem pifar todos os semáforos, mas os radares funcionam até no meio de um blecaute, tenho certeza.
Enchentes e trânsito caótico já viraram parte da paisagem no verão paulistano. A desculpa é sempre a mesma, sobrando para a natureza a culpa pela incompetência administrativa das autoridades. Eles não atravessam enchentes, não têm suas casas invadidas pela água nas tempestades, não precisam enfrentar trânsito. Assim fica fácil ignorar o problema que aflige a população que os elegeu para justamente evitar que essas tragédias continuem acontecendo, ano após ano.
E o pior é que a população não reage. Esse cara vai ficar aí até o fim do mandato dele e corro o risco de ter que aturá-lo como governador no futuro. Ninguém merece...
(Prometo postar o link do editorial que deu origem a esse modesto protesto assim que possível)

sábado, 19 de fevereiro de 2011

OS REALITY SHOWS E A QUESTÃO MORAL



Recentemente, a CNBB se manifestou duramente contra os reality shows, atualmente uma verdadeira mania nacional (eu diria “praga”), que foi importada da tal Endemol e se alastrou por tudo que é canal de TV, aberto ou fechado. Claro, o foco é o BBB 11, da Globo, que eu não vi e não gostei, como sempre. Mas que sei que anda ‘causando’, porque vejo as manchetes das notícias nos sites da Internet (porque não dá pra desviar, infelizmente).
Achei ótimo que jogassem luz sobre o assunto, porque sempre me incomodou muito esse tipo de programação esdrúxula invadindo os melhores horários da televisão, quando programas que realmente têm utilidade ou valor cultural são deixados para a madrugada, ou até mesmo excluídos da programação dessas emissoras.
Mas sou da Comunicação e sei que notícia boa não vende, assim como sei que as pessoas têm interesse, sim, por esse tipo de porcaria. Se não fosse assim, revistas de celebridades não venderiam como pão quente mundo afora. O ser humano tem um certo prazer em bancar o “Big Brother” de Orwel, observando a desgraça alheia, sabendo tudo da vida do outro, em ser uma espécie de voyeur (senta no próprio rabo e fica olhando o dos outros).
O assunto, enfim, é polêmico e divide realmente a sociedade. Conheço pessoas queridas que gostam (fazer o quê?), assim como existem os que, como eu, detestam. Acho que eu sou normal.
Fato é que a CNBB chamou a atenção até mesmo do MPF para o assunto, e eles já estão interpelando a Globo a respeito. Pena que ninguém até agora se preocupou em responder ao questionamento dos promotores. Audiência garantida - mesmo que em baixa, em relação às edições anteriores -, e o Sr. Boninho não dá bola prá galera.
Já dei aula de Ética na faculdade, voltada especificamente à comunicação, e sei bem o que é moral. É justamente nesse ponto que esses programas incomodam as instituições. Segundo o procurador da república Aurélio Rios, o BBB 11 “é um grande desserviço e serve muito à deseducação. Não estimula a criação, o princípio de solidariedade, os valores éticos da pessoa e da família”. Não mesmo, mas e daí? Rende risadas, conversas, grandes debates entre os seus telespectadores no café da manhã do dia seguinte, e é isso o que importa. Se essas pessoas prestam atenção, perdem seu precioso tempo (e dinheiro) prestigiando essas bizarras gaiolas humanas, os poderosos da mídia e seus parceiros ganham milhões, e a roda da cultura de massa segue girando e moendo a sociedade...
Bem diz o Marcelo D2: “Celebridade é artista, artista que não faz arte”. É isso. Lamentavelmente.