Ontem aconteceu um caso absurdo em Brasília, cidade onde os absurdos infelizmente são tão comuns que a repercussão até que foi tímida.
O repórter Victor Boyadjian, do Grupo Bandeirantes, estava entrevistando o senador Roberto Requião e insistia em perguntar por que o dito-cujo não se empenhava em devolver aos cofres públicos a pensão vitalícia que ele recebia como ex-governador do Paraná, depois que passou do governo ao senado.
Esse assunto é espinhoso, muitos políticos ditos “ficha limpa”, que recebiam essa verdadeira benesse, se viram em saias-justas ao ser descoberta a mamata, tendo que abrir mão do benefício para tentar manter sua imagem minimamente respeitável perante o grande público, já que o assunto deu muita mídia.
Outros não se importaram em manter a vantagem, alegando que, se ela é legalmente constituída, não pode ser considerada como indevida. Tremendos caras-de-pau, mas ao menos são sinceros, doa a quem doer.
Requião, do PMDB, é da turma que diz que “nem sim, nem não, muito pelo contrário”, sabe... Ficou em cima do muro, deu uma desculpa esfarrapadíssima ao repórter, de que esse dinheiro ele usa para pagar multas injustas que lhe são impostas (que multas serão estas, afinal?) e deixou entrever que não tem a intenção de abrir mão do dinheirinho fácil, que se não for revogado pela Justiça, vai continuar entrando em seus cofres pelo resto de sua vida difícil, muito tempo depois de quitadas as tais ‘multas’.
Mas Victor não se deu por vencido e resolveu insistir ainda uma outra vez, questionando se ele não concordava que, se abrisse mão do benefício, talvez estivesse fazendo a sua parte para ajudar a melhorar a condição dos cofres combalidos de seu Estado. Aí a truculência tomou forma e, aproveitando que falava ao rádio (e não às câmeras de TV), Requião ameaçou surrar o repórter, tomou-lhe o gravador, deletou o áudio da entrevista e ainda a publicou em seu site, bravateando que o sujeito era um ‘engraçadinho’, que a entrevista era ‘dele’, que não permitiria nenhuma edição em sua fala para prejudicá-lo. Só faltava se comparar a Jesus Cristo! Pior é que não, não faltou. Ele ainda ousou fazer isso... (é brincadeira a gente trabalhar tanto pra pagar o salário polpudo de sujeitos assim, né não?)
Isso depois do pobre Victor concordar em desligar o gravador – coisa que, em si, já seria uma indignidade, pois o gravador é o seu instrumento de trabalho, afinal, ele estava gravando uma reportagem para a Rádio Bandeirantes! Como validar a matéria sem o áudio do entrevistado???
Enfim, depois da agressão e da ameaça, vencido e indignado, o repórter tentou registrar a ocorrência na Corregedoria do Senado, mas não foi bem-sucedido, porque – pasmem! – o Senado está sem corregedor, desde outubro do ano passado. Mais uma prova de eficiência muito conveniente do ilustre – e de há muito manjadíssimo - presidente da casa, senador Sarney. A propósito, indagado sobre o assunto, o lord maranhense se limitou a dizer que não acreditava que o senador tivesse feito isso, pois ele era uma pessoa muito elegante... É cinismo demais.
Ou seja: ficou o dito pelo não-dito, o truculento entrou e saiu da situação ileso, e se a FENAJ não tomar uma atitude em alguma instância do poder federal, nem mesmo uma censura esse agressivo senador vai receber. O crime compensa. Pelo menos para ‘quem pode’.
Ainda bem que o Sindicato dos Jornalistas no DF tomou posição e está tentando enquadrar a atitude desse servidor público, desse “funcionário do povo brasileiro”, como falta de decoro parlamentar. É o mínimo, mas quem sabe pelo menos uma bronquinha discreta, ao pé do ouvido, o senador receba. É pouco, pouquíssimo, principalmente se considerarmos que a ameaça feita por ele ao repórter pode se concretizar – esses políticos do gênero ‘coronel’, que existem à larga no Brasil, são mesmo de meter medo.
Quanto ao jornalista, quem mandou ser atrevido e engraçadinho, importunando um importante membro do Congresso Nacional com perguntas desagradáveis durante uma entrevista?
Quem quiser saber mais, clique no link: http://noticias.uol.com.br/politica/2011/04/26/no-senado-requiao-se-compara-a-jesus-cristo-e-diz-que-perdeu-a-paciencia.jhtm